rt 2020 renovação
A RT 2020 durante uma renovação

Esperada há muito tempo, a RE 2020, ainda frequentemente chamada de RT 2020, marca uma viragem na forma de encarar o desempenho energético dos edifícios. Aplicada desde janeiro de 2022, esta regulamentação impõe agora que as habitações renovadas vão muito além da simples redução dos consumos: devem tornar-se produtoras de energia. Concebida no seguimento da lei ELAN, transforma profundamente os critérios de desempenho, os modos construtivos, os materiais permitidos e os equipamentos instalados. A renovação energética inscreve-se agora numa lógica de sustentabilidade ao longo de todo o ciclo de vida dos edifícios. Proprietários, arquitetos e artesãos devem lidar com este novo referencial, muito mais exigente do que os anteriores. Retorno sobre as implicações concretas desta evolução regulamentar.

RE 2020 ou RT 2020: por que persiste esta confusão semântica

A designação correta é RE 2020 para « regulamentação ambiental ». No entanto, o termo RT 2020 ainda é comumente usado, uma herança dos antigos regulamentos térmicos (RT 2005, RT 2012) que estruturaram até então a política energética do edifício em França.

Esta mudança de vocabulário explica-se pela perceção de continuidade entre estas normas, mesmo que a RE 2020 introduza uma abordagem alargada integrando agora a dimensão ambiental em sentido amplo, para além da térmica apenas.

No âmbito dos trabalhos, pode-se encontrar a norma em vários domínios: a RT 2020 para a isolamento do telhado, a RT 2020 para tijolos ou blocos, a RT 2020 para isolamento de uma laje em terra cheia ou ainda a RT 2020 para a espessura do isolamento das paredes.

O que muda a RE 2020 em relação a RT 2012 na renovação

A abordagem do desempenho energético evolui radicalmente: onde a RT 2012 limitava os consumos, a RE 2020 impõe a produção de energia e uma avaliação do edifício na sua globalidade, desde a conceção até ao fim de vida.

Uma redução drástica das necessidades energéticas

A norma estabelece novos limites que impõem às habitações renovadas alcançar um desempenho energético quase nulo, ou até positivo.

Isso passa por uma conceção bioclimática mais rigorosa e uma redução das necessidades desde a estrutura do edifício:

Ponto de Consumo RT 2012 RE 2020
Limite global de consumo 50 kWh/m²/ano (BBC) 0 kWh/m²/ano
Aquecimento 15 a 20 kWh/m²/ano 12 kWh/m²/ano
Energia primária total (todos os usos) 100 kWh/m²/ano

Os edifícios, portanto, devem limitar ao máximo as perdas térmicas e apoiar-se em sistemas passivos para manter o conforto interior.

Habitações a energia positiva

O rótulo BEPOS (edifício a energia positiva) torna-se a referência. Em renovação, isso implica transformar as habitações para que sejam capazes de produzir sua própria energia através de equipamentos integrados. O objetivo é duplo: reduzir o consumo e valorizar a autoprodução.

Estas soluções são particularmente solicitadas:

  • captores solares (fotovoltaicos ou aerovoltaicos)
  • bomba de calor ar/água ou geotérmica
  • caldeiras a pellets, substituindo definitivamente o gás ou o fuel

Esta energia pode alimentar a habitação ou ser injetada na rede pública.

Uma avaliação alargada ao ciclo de vida completo

A grande novidade reside na análise do ciclo de vida completo do edifício. O desempenho energético não se limita mais aos consumos diretos, mas agora leva em conta:

  • os materiais de renovação (origem, impacto de carbono, duração de vida)
  • os equipamentos eletrodomésticos e sua eficiência
  • a pegada ambiental da obra de renovação

Este alargamento do âmbito permite fazer um balanço ambiental mais fidedigno à realidade do uso de um edifício.

Quais são as alavancas de desempenho em renovação segundo a RE 2020

Para atingir os objetivos estabelecidos, a regulamentação baseia-se em um tripé técnico: isolamento reforçado, recurso às energias renováveis, equipamentos inteligentes.

O isolamento, pilar do desempenho térmico

A envolvente do edifício deve ser amplamente repensada. A RE 2020 impõe um triplo da espessura dos isolantes, que passa de 100 mm (RT 2012) para 300 mm.

Os isolantes ecológicos como a lã de celulose, o cânhamo, as fibras de madeira ou ainda o feltro de lã de ovelha são fortemente privilegiados.

Outras soluções, como os envidraçados com efeito térmico, venezianas automáticas orientáveis ou tijolos isolantes, permitem otimizar os ganhos solares e limitar as perdas.

Sistemas de energia renovável como padrão

Os dispositivos baseados nas energias renováveis tornam-se a norma em renovações ambiciosas.

Os painéis solares fotovoltaicos ou aerovoltaicos, bombas de calor ar-ar ou geotérmicas, aquecedores de água termodinâmicos, caldeiras a pellets ou ainda turbinas eólicas domésticas são agora o coração dos projetos.

O uso de sistemas de recuperação de águas pluviais ou de poços canadenses também permite limitar as necessidades energéticas ligadas à climatização ou à água quente.

O aquecimento a gás ou fuel torna-se incompatível com as exigências da RE 2020, exceto em casos especiais muito regulamentados.

Equipamentos complementares para estabilizar o desempenho

Certos dispositivos visam regular naturalmente as condições de conforto ao longo do ano.

Os vidros de controle solar numa superfície equivalente a um sexto da habitação, associados a vidros duplos low-e, permitem maximizar as contribuições térmicas no inverno e atenuá-las no verão.

A ventilação de fluxo duplo com recuperação de calor, a difusão de ar quente para zonas não expostas e os sistemas de aquecimento de reserva a energia renovável asseguram um funcionamento ideal em todas as estações.

Rumo a uma mudança nas práticas diárias

A eficiência energética também passa por uma sobriedade de uso. A RE 2020 incentiva uma evolução progressiva dos hábitos de consumo doméstico.

A automação de iluminação, o uso de lâmpadas LED, a instalação de autoclismos de duplo comando, o uso de chuveiros de baixo débito ou ainda a programação inteligente dos eletrodomésticos participam dessa dinâmica.

O degelo do frigorífico, a ventilação regular das divisões e a redução do consumo dos aparelhos em stand-by vêm completar esses gestos simples, mas estruturantes para o desempenho global da habitação.

Conselhos do profissional: otimizar a sua renovação para atingir o rótulo BEPOS

Na prática, atingir os limites estabelecidos pela RE 2020 em renovação implica muito mais do que uma simples troca de janelas ou adição de isolante no teto.

O sucesso de um projeto passa por uma abordagem sistémica e antecipada, desde a fase de conceção. Por exemplo, as experiências comprovam que o faseamento dos trabalhos tendo em conta as contribuições solares, a inércia térmica do edifício e a regulação natural permite ganhar em desempenho sem um custo adicional elevado.

Recomenda-se também o recurso a uma simulação térmica dinâmica (STD) antes de qualquer obra. Esta ferramenta, frequentemente subestimada, modela o comportamento energético real de uma habitação renovada, integrando a orientação, os materiais, o clima local e os hábitos de vida.

Ao contrário dos cálculos regulamentares clássicos (tipo Bbio), a STD permite ajustar com precisão a espessura dos isolantes, o tipo de ventilação ou o dimensionamento da PAC.

Coletividades como a Metrópole de Lyon ou Rennes Metrópole oferecem ainda ajudas financeiras se a renovação visar um desempenho superior à RE 2020. Algumas operações são também elegíveis ao Coup de pouce Rénovation performante ou ao eco-PTZ reforçado.

Conselho prático

Antes de isolar as suas paredes ou mudar o seu sistema de aquecimento, peça a realização de uma auditoria energética global por uma empresa de estudos térmicos certificada RGE Estudos.

É a melhor forma de evitar renovações por etapas desordenadas que limitam os ganhos reais. Muitos proprietários renovam sem levar em consideração as pontes térmicas ou a ventilação, o que anula em parte os benefícios esperados.

Glossário

  • BEPOS: Edifício com Energia POSitiva, produz mais energia do que consome
  • STD: Simulação Térmica Dinâmica, método de cálculo do desempenho energético tendo em conta o clima real e o uso do edifício
  • Inércia térmica: capacidade de um material de armazenar calor para o libertar mais tarde
  • Bbio: Necessidade Bioclimática, indicador regulamentar que mede o desempenho da conceção (sem equipamentos)
  • Ponte térmica: zona de ruptura de isolamento entre dois elementos do edifício, responsável por perdas de calor