recuperador água da chuva
Um recuperador de água da chuva no jardim

Em Portugal, a captação de águas pluviais está a tornar-se uma prática comum, acompanhada por fiscalidade específica e normas precisas, ainda pouco conhecidas por muitos utilizadores. Entre a taxa de saneamento, os apoios locais e as regras que proíbem certos usos, a legislação regula firmemente a recolha deste recurso que permite reduzir até 40% o consumo de água potável de uma casa. Entender a regulamentação permite evitar sanções, avaliar melhor o interesse financeiro e proteger as suas instalações, quer se trate de alimentar as sanitas, regar uma horta ou ligar uma máquina de lavar roupa. Este guia aborda o imposto ligado ao uso doméstico das águas pluviais, as restrições em vigor e os usos autorizados em função das instalações e dos volumes recolhidos.

Regulamentação fiscal e usos autorizados das águas pluviais

Uma taxa de saneamento é aplicada sobre a água pluvial recolhida e posta no sistema público, calculada segundo os volumes de água recolhidos e o município, sendo o seu valor baixo face às poupanças geradas. Geralmente situa-se entre 30 e 70 € por ano:

Tema Detalhes práticos
Taxa de saneamento Água pluvial utilizada no interior, descarregada na rede de esgotos
Valor médio anual 30 a 70 € por família
Usos autorizados Sanitas, limpeza, rega, limpeza exterior
Usos proibidos Bebidas, usos alimentares
Equipamentos necessários Tanque de recolha, filtro opcional, contador de volume
Referência legal CGCT artigo R. 2224-19-4
Proibições específicas Telhados com amianto ou chumbo, armazenamento prolongado sem renovação
Subvenções possíveis Apoios locais conforme projeto e comunidade

Também pode questionar-se se é possível cavar um poço no seu jardim para recolher água ou se é permitido encher a piscina com a água do poço sem ser taxado.

Novas disposições legais sobre a recolha de águas pluviais

Perante o crescimento das instalações domésticas de recolha de águas pluviais, o legislador reforçou o quadro regulamentar para controlar o seu uso enquanto apoia iniciativas que permitam reduzir o consumo de água potável.

Agora, as novas construções que integram um sistema de recolha devem pagar uma taxa com base nos volumes utilizados no interior, antes da sua descarga no sistema coletivo, calculado com base nas áreas do terreno, no número de habitantes e nos usos registados.

Alguns municípios aplicam um imposto local específico destinado a financiar as infraestruturas hidráulicas necessárias para uma gestão sustentável das águas pluviais. O seu cálculo baseia-se na superfície impermeabilizada da propriedade, na capacidade de armazenamento do tanque e, em alguns casos, no volume recolhido.

Este imposto pode atingir 1 € por metro quadrado dependendo dos territórios, com níveis modulados de acordo com as tensões hídricas locais e políticas de incentivo à recolha doméstica de água pluvial.

Usos das águas pluviais e quadro regulamentar

O uso doméstico de águas pluviais em Portugal é estritamente regulamentado para evitar riscos de saúde, com proibição formal da sua utilização para consumo humano ou fins alimentares.

É, no entanto, permitido alimentar as sanitas ligando o autoclismo a um tanque de recolha, reduzindo significativamente a conta de água potável sem a necessidade de filtragem, embora a instalação de um filtro possa proteger os tubagens.

A rega de espaços verdes, a limpeza de veículos e a manutenção exterior são também autorizadas, desde que não se mantenha a água estagnada por muito tempo para limitar o desenvolvimento de bactérias.

Para as famílias que pretendem utilizar água da chuva numa máquina de lavar roupa, a instalação de um pré-filtro é necessária para garantir uma qualidade sanitária suficiente, embora o uso em máquinas de lavar loiça permaneça proibido.

As proibições e obrigações a conhecer incluem:

  • proibição de usar água pluvial para bebida e fins alimentares
  • proibição de recolha em telhados contendo amianto ou chumbo
  • obrigação de declaração na câmara municipal ou ao serviço de saneamento antes de pôr em serviço
  • risco de sanções que podem atingir 45 000 € de multa e três anos de prisão em caso de contaminação da rede pública por uma instalação não conforme

Equipamentos e apoios financeiros para a recolha de águas pluviais

A instalação de um sistema de recolha de águas pluviais pode ser facilitada através de subvenções locais, isenções fiscais e uma taxa de IVA reduzida a 10%, conforme as comunidades e a natureza das obras.

Os equipamentos variam consoante as necessidades: tanques enterrados para grandes volumes, reservatórios aéreos para pequenos espaços, e sistemas de filtragem que permitem um uso doméstico alargado da água recolhida.

Estes dispositivos facilitam o acesso à recolha de água, reduzindo também a conta de água potável.

Conselhos do profissional para otimizar a sua recolha de águas pluviais

Os proprietários que desejam instalar ou otimizar o seu sistema de recolha de águas pluviais podem beneficiar da análise pluviómetrica regional para calibrar o seu tanque, usando dados do IPMA ou do LNEG (Laboratório Nacional de Energia e Geologia) para conhecer o volume médio recuperável por m² de telhado conforme a sua localização.

Esta antecipação permite evitar um sobredimensionamento dispendioso ou um subdimensionamento ineficaz.

Pense também em investir num desconector de zona de baixa pressão (tipo BA) para proteger a rede pública de possíveis retornos de água contaminada, uma exigência inscrita no despacho de 21 de agosto de 2008 que regulamenta o uso de águas pluviais dentro dos edifícios.

Este dispositivo, embora raramente mencionado em conteúdos concorrentes, é indispensável se a sua rede de água potável estiver ligada à rede de distribuição interna alimentada parcialmente por água pluvial.

Para afinar o cálculo da taxa de saneamento, algumas comunidades aceitam uma estimativa mais precisa através de um contador volumétrico dedicado às águas pluviais, o que pode reduzir o valor do imposto se o volume descarregado na rede for inferior às estimativas forfetárias aplicadas pela comunidade.

Conselho prático aplicável imediatamente

Contacte o SPANC (Serviço Público de Saneamento Não Coletivo) ou a sua entidade de saneamento antes da instalação de um reservatório para conhecer as modalidades locais de cálculo, os apoios financeiros específicos disponíveis (alguns municípios como Lisboa ou Porto oferecem subvenções que podem cobrir até 30% do custo do reservatório) e os controlos obrigatórios eventuais.

Isto evitará surpresas fiscais ou administrativas na sua colocação em serviço.

Glossário para entender melhor a recolha de águas pluviais

Desconector tipo BA: dispositivo de proteção contra o retorno de água poluída na rede de água potável, indispensável em caso de ligação parcial das águas pluviais à rede interna

SPANC: Serviço Público de Saneamento Não Coletivo, interlocutor local para a gestão de águas residuais e pluviais, controla e aconselha sobre a conformidade das instalações

LNEG (Laboratório Nacional de Energia e Geologia): entidade pública de referência no conhecimento do subsolo e recursos hídricos em Portugal, útil para consultar dados sobre pluviosidade

Pluviosidade: medida das precipitações numa área específica, geralmente expressa em milímetros por ano, essencial para dimensionar um sistema de recolha

Taxa de saneamento: imposto aplicado às águas pluviais descarregadas na rede pública após o seu uso doméstico, permitindo financiar o seu tratamento

Desconector de zona de baixa pressão: dispositivo de segurança hidráulica imposto para evitar o retorno de água poluída para a rede pública quando se usa águas pluviais no interior

Artigo R. 2224-19-4 do CGCT: texto do Código geral das coletividades territoriais indicando as regras de cálculo dos volumes considerados para a taxa de saneamento aplicada às águas pluviais